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Exposição
A pesca artesanal e a exploração mineral em Nacala-a-Velha: Exposição de Iago Avelar

A pesca artesanal e a exploração mineral em Nacala-a-Velha: Exposição de Iago Avelar

Moçambique vive hoje uma nova etapa em sua longa história de exploração mineral. A descoberta de combustíveis fósseis e a entrada de megaprojetos para a extração desses recursos tem sido uma realidade muito recente no país. A rápida instalação e operação desses megaprojetos vem modificando a biodiversidade, a paisagem e os modos de vida de diversas comunidades. A Mineradora Vale começou a operar em Moçambique em 2004 e para escoar a produção de carvão mineral explorado em Moatize, na província de Tete, implementaram um projeto chamado Corredor de Nacala, um projeto logístico que transformou uma antiga linha férrea colonial na principal rota de transporte do carvão até o porto de Nacala-a-Velha, na província de Nampula.

Nacala-a-Velha é um distrito costeiro da província de Nampula que hoje abriga um dos maiores investimentos da Vale, o porto da Vale, ou porto da CLN, construído para escoar o carvão mineral extraído em Moatize. Com o início da construção de do porto e a criação da zona econômica especial de Nacala, o distrito recebeu muitas pessoas e investimentos.  Mas isso não durou muito tempo. O boom durou cerca de três anos e coincidiu com a fase final de implementação do projeto, de 2012 até 2015. Hoje é possível passar por Nacala-a-Velha e nem perceber que existe ali um megaprojeto tão grande como esse da Vale em operação. As infraestruturas construídas durante esse período hoje estão completamente vazias. Muitos estabelecimentos construídos agora estão falindo. Hotéis, restaurantes, bares, quase todos estão fechados. Sem esperanças de mudanças, grande parte da população ainda aposta na atividade que sempre assegurou a subsistência da maioria das famílias na região: a atividade pesqueira.

O processo de mineração, transporte e principalmente de escoamento do carvão mineral, apesar do pouco tempo de operação, têm criado áreas com sinais de poluição muito preocupantes. Os efeitos produzidos durante a operação do porto já começaram a aparecer Além da destruição da vegetação local com a implementação do megaprojeto, a degradação ambiental em Nacala-a-Velha tem afetado a produção de comida, e os moradores já não produzem como antes. Além disso, as atividades portuárias ao longo da zona costeira vêm causando a degradação de mangues, corais e dunas costeiras, destruindo os locais de reprodução e reduzindo significativamente a quantidade de peixes. Nacala-a-Velha sempre dependeu de suas saídas para o mar, mas a recente instalação desses megaprojetos tem colocado a pesca, uma das principais atividades de subsistência local, em grande risco.

Esse ensaio fotográfico é um dos resultados de um trabalho de campo de 4 meses realizado no norte de Moçambique, na província de Nampula, mais precisamente nos distritos de Nacala e Nacala-a-Velha, entre agosto e dezembro de 2017. As fotos são inéditas e foram tiradas no contexto de uma pesquisa muito mais ampla, intitulada “A Vale em Moçambique: mapeando controvérsias sociotécnicas em África e alhures”, realizada em parceria entre a UFMG/Brasil e a UniLúrio com o apoio do Programa Pro-Mobilidade CAPES/AULP. Com foco em Nacala-a-Velha, esse trabalho busca contribuir para que compreendamos melhor o que se passa atualmente em uma das pontas do Corredor. Durante o campo foquei meus esforços na pesca, mas principalmente, em como ela se encontra hoje, frente a instalação e operação do porto. É a partir deste olhar que apresento as fotos a seguir.

Exposição apresentada pela AJADH em 2020

Sobre o autor:

Iago Vinícius Avelar Souza

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil com Graduação Sanduíche pela Universidade do Lúrio/Moçambique. Membro do Laboratório de Antropologia das Controvérsias Sociotécnicas da FAFICH, UFMG/Brasil. Tem experiência na área de pesquisa com desastres ambientais provocados por mineradoras, tanto no Brasil quanto em Moçambique. Actua a mais de 2 anos junto as Assessorias Técnicas dos Atingidos e Atingidas por Barragens de Mineração no Brasil.

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