A JORNADA PARA SE TORNAR A PRIMEIRA ASTRONAUTA A PISAR MARTE
O único mundo, além da Terra, no qual a humanidade pôs os pés é a Lua – o que aconteceu apenas com as missões Apollo no final dos anos 1960 e até meados dos anos 1970. Desde então, a NASA e outras agências espaciais, no mundo, se dedicaram a estudar o restante do Sistema Solar, lançando telescópios espaciais para estudar o resto do universo e também investindo pesadamente na presença de astronautas no espaço, especificamente na Estação Espacial Internacional (ISS).
Desde o evento de Yuri Gagarin, o primeiro homem a chegar ao espaço, em 1961, vários estudos foram realizados por agências espaciais, como a NASA, para colocar o homem além da terra. Nos últimos tempos, o foco tem sido essencialmente a exploração humana de Marte – fazendo, nesse sentido, Marte o próximo salto gigante para a Humanidade.
A escolha de Marte deve-se ao fato de que depois da Terra, Marte ser o planeta mais habitável do sistema solar, considerado um dos principais candidatos à colonização humana extensa e permanente, não apenas por estar mais próximo do Planeta Terra, mas também pelas condições de sua superfície – que são mais semelhantes às da Terra, em comparação com outros planetas do Sistema Solar, destacando-se, por exemplo, a disponibilidade de águas superficiais.
Com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre a vida de um astronauta, bem como entender os fenômenos da natureza, a composição do universo e um pouco mais sobre astrofísica e astronomia, nosso pesquisador e Diretor Executivo, da Associação de Jornalistas Ambientais e de Direitos Humanos (AJADH), entrou em contato com Alyssa Carson, que se tornará a primeira astronauta a caminhar em Marte, em 2033, para entender suas perspectivas e um pouco sobre sua vida cotidiana, em seu ambiente de trabalho. Siga nossa magnífica conversa e aprenda um pouco mais sobre o astronauta que fará parte da tripulação que dará o novo salto gigante da humanidade – em direção a Marte.
SÉRGIO DOS CÉUS NELSON (SCN): Por que a humanidade precisa de outro planeta? Qual a urgência disso e dos estudos realizados pelas agências espaciais?
ALYSSA CARSON (AC): Eu acho que ter outro planeta é um tipo de opção, porque será muito benéfico, por causa das mais recentes razões que nos desafiam a pensar num outro plantea: a população continua a crescer e é estratégico ter outro lugar para ir e um lugar com mais recursos que possamos trazer para a Terra. O sol acabará queimando, assim como o resto do sistema solar. Para que o ser humano sobreviva, eventualmente vamos nos mudar para outro planeta e Marte não é definitivamente a opção final, por estar no mesmo sistema solar, mas acredito que Marte é o primeiro passo. Precisamos entender o processo de viver em outro planeta, desenvolvendo tecnologias para que, no momento em que isso aconteça, tenhamos mais consciência das circunstâncias.
SCN: Qual a sensação de estar para fazer história na humanidade, depois do evento de Neil Amstrong em 1969? Que significado isso tem para ti?
AC: Eu vejo como se estivesse fazendo algo pelo qual sou apaixonada, aprender mais sobre o programa espacial, mas quero contribuir, de qualquer maneira, para a missão em Marte – da maneira que puder, seja na missão ou participar do processo com foco em Marte. Eu só quero fazer parte disso, porque acho que é muito benéfico para todos nós – acho que é muito importante para a humanidade apostar nesta nova gigantesca missão.
SCN Pode falar da sua curiosidade em relação a marte? Porquê exactamente Marte?
AC: Eu me interessei por Marte quando eu era super jovem, porque era um lugar que não visitamos antes. Inicialmente, eu estava interessada em Marte porque ouvi falar de pessoas indo para a lua, mas não para Marte, então, na minha cabeça, eu pensava o que havia lá, já que ninguém nunca esteve em Marte. Mas, à medida que vou crescendo e quanto mais aprendo sobre o Espaço e Marte, estou definitivamente muito mais motivada e apaixonada, por Marte, com base em todas as diferenças, pesquisas que podemos fazer lá. Marte é o próximo lugar para ir, porque é o planeta mais próximo, com uma atmosfera razoável e condições de vida razoáveis para os humanos se adaptarem, então eu acho que Marte é o próximo lugar em nosso sistema solar a visitar.
SCN: Qual a sensação de estar para ser a primeira pessoa a caminhar em Marte?
AC: Eu acho que é enorme e vai mudar a maneira como Marte já é “conhecido”. No programa espacial, […] acho que é muito diferente quando você quer se tornar um astronauta desde que é pequeno, tendo todo esse objetivo em mente, então acho que mudou – o processo de pensar em se tornar uma astronauta. Eu acho isso bem interessante.
SCN: Li que um dos seus objectivos é fazer o estudo da água em Marte. O que esperas com os estudos que pretendes fazer (em Marte)?
AC: Basicamente, o objetivo de estudar a água em Marte é porque a água é tão benéfica de muitas maneiras, olhando para o início de uma nova vida (em Marte) e encontramos gelo, água líquida e vapor. Existem muitas oportunidades para procurar sinais de vida melhor ou até mesmo usar essa água como recurso para os astronautas, em Marte.
SCN: É a primeira pessoa a completar o Programa de Passaporte da NASA ao visitar todos os 14 Centros de Visitantes da agência espacial e a visitar todos os Space Camps, e é ainda a pessoa mais nova a ser aceite na Academia Space Possum. Quer falar um pouco disto? Da sua entrega, dinamismo e sede em atingir as metas que definiste?
AC: Basicamente, as diferentes coisas que fiz foram parte do Programa Passaporte para visitar todos os diferentes campos espaciais e isso me ajudou a aprender mais sobre o espaço, tudo o que me interessava – e a Possum Academy foi o primeiro nível em que me envolvi. O Projeto Possum é um Programa de Pesquisa em Ciências do cidadão que permite que as pessoas contribuam com pesquisas. Foi realmente incrível porque eu pude me envolver com pesquisas da vida real, como treinamentos de sobrevivência na água, avaliações espaciais. Tem sido um tipo do jogo para desfrutar. É definitivamente interessante fazer algo que eu quero participar totalmente.
SCN: Pode nos falar dos processos/caminhos que fizeram com que te tornasses astronauta? Como isso tudo começou?
AC: O caminho para se tornar um astronauta tem tudo a ver com os requisitos, com o diploma de mestrado, além de alguma experiência de trabalho e passar nos testes físicos. Basicamente, é importante ter os requisitos, mas também querer construir um currículo. Eu estive na escola estudando astrobiologia, porque é importante estudar algo em que você realmente está interessado. Também estou tentando descobrir o que mais posso acrescentar para criar meu curso de astrobiologia – que é realmente uma maneira de, esperançosamente, conseguir ser selecionada para a viagem até Marte.
SCN: Quais os motivos que te fazem gostar do espaço, de ser astronauta ou da astronomia?
AC: Eu realmente gosto de espaço, sendo astronauta e as demais oportunidades e experiências que isso tudo oferece. Comecei quando era mais jovem e quanto mais eu aprendia sobre o espaço, mais interessada eu ficava. Todos os dias tenho trabalhado mais para construir este sonho [de me tornar uma astronauta].
SCN: O que espera encontrar em Marte? Quais são as suas expectativas?
AC: Eu realmente espero que a missão seja super bem-sucedida e encontre dados, recursos que possam ser úteis. Eu acho que a vida bacteriana na água mudaria o jogo, mas, em geral, acho que o objetivo da missão em Marte é apenas descobrir o máximo possível sobre Marte para entender realmente como seria possível viver em outro planeta.
SCN: Acreditas em alienígenas? Acreditas na possibilidade de encontrar vida em Marte?
AC: Tanto quanto acredito em alienígenas, acredito que algo pequeno como a vida bacteriana é super possível, em Marte. Eu acho que é possível encontrar pequenas coisas assim. Eu acho que existe vida inteligente por aí. O universo é grande demais para que não existam, mas eu não sei necessariamente se existe vida inteligente em Marte.
SCN: Como seria se houvesse contacto com extraterrestres em Marte, caso acredite que existam?
AC: Acho que, se houver uma vida inteligente em Marte, provavelmente não saberia como reagir, mas não sei se há algo inteligente, provavelmente pequenas bactérias que não podem fazer muita coisa.
SCN: Como analisa as últimas actividades espaciais, como por exemplo o último lançamento da NASA, através das naves da SpaceX?
AC: No que diz respeito a tudo que a SpaceX tem feito, eu assisti ao recente lançamento e foi super emocionante. Quero dizer, eu amo absolutamente tudo o que a SpaceX está fazendo e amo a colaboração no programa sobre o espaço. Estou realmente empolgado para ver os próximos trabalhos realizados na SpaceX e ver o que mais acontece com a indústria privada.
SCN: Como se sente por estar a representar mulheres e raparigas no mundo da ciência e qual é a tua perspectiva sobre os trabalhos das mulheres na ciência, em particular?
AC: Estou muito feliz por poder ter a plataforma e a capacidade de inspirar outras garotas e ensinar as crianças em geral. Apenas muito animada para poder representá-las e incentivar mais garotas a entrar nisto e acreditar fortemente no seu potencial e na capacidade de atingirem as suas metas e impactar, positivamente no desenvolvimento de ideias que possam ajudar a reformular o destino do mundo.
SCN: Olhando para os diversos jovens do mundo, que conselhos deixaria para aqueles que tem um sonho, uma meta e vontade de fazer algo diferente – que provavelmente mudaria o percurso do mundo, para o melhor?
AC: Para as pessoas que tenham o mesmo objetivo que eu, eu definitivamente diria que você realmente só precisa começar na sua área local, procurando diferentes oportunidades disponíveis e escolher em que tipo de carreira deseja ingressar, seja para ser piloto ou cientista. Se você estiver interessado em robótica, estude como construir um robô, vá para competições de robótica. Faça algo em sua área que possa fortalecer seu currículo. Todas essas coisas podem ser úteis, mesmo se você for mais jovem. Conte às pessoas sobre seus sonhos e diga a elas o que você está interessado em fazer, porque você nunca sabe realmente de onde vêm as oportunidades.
SCN: Esperamos ansiosamente que seja a primeira pessoa a pisar Marte. Mas por agora, pode nos falar do que está exactamente a fazer como treinos? E como estão sendo? Quais os treinos que quererem mais atenção e dedicação?
AC: Eu tenho feito principalmente treinamentos com o Projecto Possum, como outras experiências – por exemplo, no Canadá, onde realizamos algumas pesquisas. Eu tento fazer o maior número possível de pesquisas ou treinamentos.
SCN: Li que o Senhor Bert Carson fez um documentário sobre ti, onde te pergunta se os humanos já tinham ido a Marte e respondeste que “não, já fomos à Lua, mas não a Marte”. Pode falar da influência e do valor significativo que seu pai desempenha no teu percurso profissional?
AC: Meu pai me apoia desde que eu era mais jovem e me ensinou tudo relativamente às viagens feitas para a Lua. Mesmo quando eu era pequena, ele me disse que eu poderia ir a Marte se quisesse e ele foi ao acampamento espacial comigo. Definitivamente, meu pai me apoiou em tudo o que fiz, viagens, planeamentos – eu não poderia estar, exatamente, onde estou sem ele.
SCN: Como consegue conciliar isso tudo (NASA, vida no espaço – o lado profissional) com a vida pessoal?
AC: No dia mais simples em que vou à escola, faço as tarefas recomendadas na escola, no processo da minha formação. Normalmente, quebro um tempo, mas tento sempre manter a escola como minha prioridade.
SCN: Pode falar da influência dos “The Backyardigans” na sua vida?
AC: Basicamente, eu tinha um poster do desenho animado “Os Backyardigans” pendurado no meu quarto que retratava sobre o episódio da missão à Marte. Esse era o programa de TV que eu costumava assistir frequentemente quando era criança, mas é realmente o melhor palpite que eu e meu pai podemos inventar sobre o que me fez sonhar em conhecer Marte, em primeiro lugar. Foi estranho quando perguntei ao meu pai sobre o espaço e Marte – esse é realmente o melhor palpite que temos.
UM POUCO SOBRE ALYSSA CARSON:
Desde que ela era pequena, Alyssa Carson teve seu coração posto nas estrelas. Com apenas 3 anos, ela disse ao pai: “Papai, eu quero ser astronauta e ser uma das pessoas que vão a Marte”. Ele não fazia ideia que essa declaração aparentemente imprevisível realmente se tornaria o nascimento de um empreendimento significativo ao longo da vida.
Com apenas 18 anos de idade, a lista de realizações de Alyssa inclui testemunhar três lançamentos de naves espaciais, participar sete vezes no Space Camp, 3 vezes na Academia Espacial, 3 vezes na Academia de Robótica, 1 vez na Academia de Robótica, mais jovem a se formar na Advanced Space Academy e vários acampamentos Sally Ride. Em 2012 e 2013, ela estudou no Space Camp Turkey e no Space Camp Canada, tornando-se a primeira pessoa a participar dos três acampamentos espaciais da NASA no mundo. Alyssa também é a primeira a concluir o programa NASA Passport, visitando todos os 14 centros de visitantes da NASA em nove estados. Em Janeiro de 2013, a NASA a convidou para participar do painel MER 10, em Washington DC, para discutir futuras missões a Marte ao vivo na TV da NASA. Mais tarde, ela foi selecionada como uma das sete embaixadoras – representando Mars One, uma missão para estabelecer uma colônia humana em Marte em 2030. Em outubro de 2016, Alyssa era a mais nova a ser aceite e se formar na Advanced Possum Academy, certificando-a oficialmente de ir para espaço e uma astronauta estagiária.
Mais do que tudo, Alyssa é motivada por um desejo insaciável de viver a vida ao máximo; romper o teto da possibilidade e causar um impacto positivo e duradouro no mundo.
Entrevista em inglês: https://www.academia.edu/43424339/THE_JOURNEY_TO_BECOMING_THE_FIRST_ASTRONAUT_TO_STEP_IN_MARS
Entrevista por: Sérgio dos Céus Nelson (2020)